30 de março de 2011

Húmus - Raul Brandão





Considerada a obra-prima de Raul Brandão, foi publicada em 1917. Trata-se de um romance-monólogo, centrado em dois monólogos interiores: um primeiro orador e o seu alter-ego, um filósofo lunático. Com a narração dominada por estes dois pontos de vista, as restantes personagens são remetidas para o plano do grotesco. A obra explora a contradição entre o mundo aparente e o autêntico, onde se descobrem monstruosidades não sonhadas.
http://www.infopedia.pt/$humus 

"Obra a vários títulos excepcional pela concordância entre fundo vivido de inquietação metafísica e forma invulgar, ousada, estillaçada como um espelho de cintilações, o que logo nos fascina no Húmus é o seu caráter de antecipação: o bolor, o absurdo, a mixórdia, a dor, as forças monstruosas e cegas remetem-nos para Kafka, Camus, Sartre, Freud."
José Manuel de Vasconcelos 



"Ouço sempre o mesmo ruído de morte que devagar rói e presiste..."

 

29 de março de 2011

A dança - Pablo Neruda




Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.
.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.
.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo directamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
.
Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.


15 de março de 2011

Homenagem: Moacyr Scliar


Sétimo ocupante da Cadeira nº 31, eleito em 31 de julho de 2003, na sucessão de Geraldo França de Lima e recebido em 22 de outubro de 2003 pelo Acadêmico Carlos Nejar. Faleceu em 27 de fevereiro de 2011, em Porto Alegre, aos 73 anos. 

Moacyr Jaime Scliar nasceu a 23 de março de 1937, no hospital da Beneficência Portuguesa, em Porto Alegre (RS). Seus pais, José e Sara Scliar, oriundos da Bessarábia (Rússia), chegaram ao Brasil em 1904. Filho mais velho do casal, que teve ainda Wremyr e Marili, desde pequeno demonstrou inclinações literárias. O próprio nome Moacyr já é resultado dessa afinidade. Foi escolhido por sua mãe Sara após a leitura de Iracema, de José de Alencar, significando “filho da dor”. Ele próprio dizia: “os nomes são recados dos pais para os filhos e são como ordens a serem cumpridas para o resto da vida”.
 
Moacyr Scliar é considerado um dos escritores mais representativos da literatura brasileira contemporânea. Os temas dominantes de sua obra são a realidade social da classe média urbana no Brasil, a medicina e o judaísmo. Suas descrições da classe média eram, frequentemente, inventadas a partir de um ângulo supra-real.


"Acredito, sim, em inspiração, não como uma coisa que vem de fora, que "baixa" no escritor, mas simplesmente como o resultado de uma peculiar introspecção que permite ao escritor acessar histórias que já se encontram em embrião no seu próprio inconsciente e que costumam aparecer sob outras formas — o sonho, por exemplo. Mas só inspiração não é suficiente".


Saiba mais sobre o autor em:http://www.scliar.org/moacyr/.

6 de março de 2011

Mal secreto - Raimundo Correia



Se a cólera que espuma, a dor que mora
n'alma, e destrói cada ilusão que nasce, 
Tudo o que punge, tudo o que devora. 
O coração, no rosto se estampasse.

Se se pudesse o espírito que chora,
ver através da máscara da face,
Quanta gente, que talvez inveja agora. 
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo.
Guarda um atroz, recôndito inimigo.
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez exite,
cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!